escrito por Bon Comunicação em 28 de maio de 2021
Em 2008 a funcionária pública e pesquisadora Norma Reis realizou o seu sonho de infância, foi trabalhar na NASA como estagiária. Durante três meses ela viveu uma experiência única e adquiriu conhecimentos com os melhores cientistas do mundo, no Centro de Voo Espacial NASA Goddard – um dos maiores centros espaciais do planeta, gerenciador do telescópio Hubble – na cidade de Greenbelt, próximo da capital Washington, nos Estados Unidos. No período em que esteve lá, Norma pesquisou sobre os eclipses ao longo dos séculos: como as diferentes civilizações reagiam ao fenômeno, resultando, posteriormente, no livro “The Space Education Phenomenon at NASA, Brazil and Beyond”, da Editora Norte-Americana Nova Publishers, que aborda como a educação espacial pode contribuir para melhorar o ensino em sala de aula. Na época, seu caso teve grande repercussão, sendo destaque no noticiário brasileiro.
“Eu sempre quis ir pra NASA. Desde os oito anos eu já entrava no site e aos 13 anos mandava cartas para lá. Meu pai, Antonio Oliveira Reis, me incentivou a estudar inglês para entender a área espacial. Minha mãe, Antonia Reis, que já é falecida, também me incentivou muito, estando presente nas feiras de ciências do colégio quando apresentava meus trabalhos sobre Astronomia e Astronáutica. Para conseguir o estágio na NASA, comecei a entrar em contato com cientistas da NASA e recebi várias negativas, mas um dos cientistas acabou me aceitando no projeto, que abriu as portas para mim junto com a Universidade. Uma pessoa que me ajudou imensamente no meu sonho junto a NASA foi Olga Anna Gioppo, do Soroptimist International. Gracas a ela, consegui dentre outras coisas uma bolsa de estudos para a Universidade”, explica Norma que, depois de nove meses cursando mestrado em gerenciamento espacial na International Space University (ISU), em Estrasburgo, na França, conquistou a aprovação para estagiar em uma das maiores agências espaciais do mundo. Após a experiência na NASA, Norma retornou para o Brasil e teve a oportunidade de desenvolver diversas parcerias, além de capítulos de livros, artigos, eventos e palestras sobre a sua experiência para alunos e professores.
Mas em 2013 a pesquisadora foi surpreendida com o diagnóstico que iria mudar a sua vida e os seus planos. Após ter diversos delírios, Norma descobriu que sofria de esquizofrenia, transtorno mental caracterizado por alterações no pensamento, como alucinações, delírios, problemas de raciocínio, apatia, diminuição da psicomotricidade e falta de motivação. “Estava no meio de um projeto de astronomia astronáutica e ciências espaciais para os estados, viajando para diversas regiões do país. Foi neste momento que surgiu a esquizofrenia na minha vida. Acredito que um sentimento inconsciente de culpa me fez ter os delirios. Comecei a ter delírios e mesmo com o diagnóstico não acreditei”, lembra.
Durante quase quatro anos, a pesquisadora sofreu com os delírios e o primeiro tratamento não teve o resultado esperado, sendo internada em duas ocasiões por conta dos surtos. “Eu só fui despertar para a realidade da esquizofrenia quando parei de ter delírios, em 2016, depois de uma internação e um surto psicótico. Cheguei a danificar o apartamento que eu morava, desenhei nas paredes, quebrei copos, joguei computadores e dinheiro pela janela, porque fiquei sem medicacao. Pensei em suicídio e perdi muito amigos, destruí muitos memórias da NASA, como centenas de fotos”, conta.
Para controlar a esquizofrenia, hoje em dia Norma tem acompanhamento médico e psicológico e faz tratamento com injeções mensais de medicamento. Ela afirma que nunca mais teve delírios, vivendo uma vida normal e com a doença controlada, já que não tem cura. “Após os delírios passarem com o tratamento, acabei tendo os sintomas negativos da esquizofrenia, como apatia, indisposição, ausência de prazer, como a vida fosse preto e branco. O que me salvou, além do tratamento, foi o amor do meu pai e a busca pelo conhecimento. Eu acreditava que deveria haver uma possibilidade para mim, além da medicina convencional. Eu acreditava que o conhecimento poderia ajudar a me transformar. Eu fiz, dentre outros cursos, o Método CIS do Master Coach Paulo Vieira, o treinamento Holo Cocriacao da Elaine Ourives, e a Academia da Produtividade, de Geronimo Theml. Aprendi no Método CIS, por exemplo, o conceito de neuroplasticidade, por exemplo, segundo o qual o cérebro pode continuar evoluindo ao longo de toda a vida, com base nas experiencias a que somos expostos”, diz.
A ex-estagiária da NASA atualmente se dedica aos cuidados de seu pai, que já é idoso, acamado e é uma pessoa com deficiência visual e necessita de tratamentos especiais. Recentemente, iniciou os estudos em Coach Integral Sistêmico e, nas horas vagas, ensina inglês em aulas particulares. “Hoje tenho agenda e me organizo, tenho horário para levantar e dormir, faço atividade físicas. Tenho outra vida, inclusive meu sonho é trabalhar novamente na NASA, mesmo que seja por um período temporário”, comenta Norma.
Preconceito ainda é uma barreira para quem tem esquizofrenia
A esquizofrenia atinge cerca de 1% da população mundial e muitas pessoas que sofrem desta doença, além de ter que lidar com todos os sintomas, precisam enfrentar um outro efeito colateral: o preconceito. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, 23 milhões de pessoas no mundo têm esquizofrenia. Somente no Brasil, dois milhões de brasileiros apresentam o distúrbio.
Os portadores de esquizofrenia não oferecem perigo às pessoas e devem ser acolhidos e cuidados, é o que pontua a psiquiatra Patricia Piper. “Quando os sintomas de esquizofrenia estão ativos, o que se chama leigamente de ‘surto’, a pessoa pode manifestar comportamentos muito estranhos, como parecer falar sozinho, se movimentar de forma estereotipada ou ter conversas incoerentes e por vezes agressividade”, complementa.
Ainda de acordo com a especialista, não existe uma causa específica para desenvolver a doença, mas existem fatores associados, como traumas e fatores genéticos. O distúrbio pode se manifestar entre os 15 e 35 anos. “Ter familiares de primeiro grau com o transtorno aumenta as chances de ter também, mas isso não é regra. A esquizofrenia é um transtorno mental crônico e sem cura, porém quem sofre desta doença pode ter uma vida normal, através de remédios controlados, que incluem o uso de psicofármacos, psicoterapia, terapia ocupacional e outras modalidade de assistência a depender da necessidade de cada paciente”, explica.
Norma Reis lembra que já teve um episódio que sofreu preconceito por causa da doença. “Uma vez, teve um episódio que fui conversar com uma amiga e ela se afastou de mim, me empurrou com as mãos, não quis chegar próximo porque tinha medo dos meus delírios. Pessoas com este distúrbio ou outras doenças mentais sofrem muito preconceito”, relata a pesquisadora e ex-estagiária da NASA.